Lugar ao <em>agitprop</em>
Mesmo sem Bienal, as artes plásticas voltam a marcar forte presença na trigésima edição da Festa do Avante! . A mostra «Comunica@to – arte e comunicação na luta política», sob o lema Romper Amarras, pretende mostrar a possibilidade de fazer convergir a expressão artística com a luta pela transformação da sociedade.
«Comunica©to –Arte e comunicação na luta política» é o nome da mostra de artes plásticas que estará patente na edição deste ano da Festa do Avante!. Como explicou Isaura Lobo, da Comissão de Artes Plásticas da Festa, este evento é a «natural expressão do património histórico dos comunistas, aliando arte e criatividade na produção de instrumentos de luta política e valorizando o património de criadores artísticos empenhados na causa da emancipação da humanidade».
Isaura Lobo crê mesmo que a mensagem política é «potenciada pelo tratamento criativo e artístico». A mostra pretende ainda mostrar a possibilidade de, «com a diversidade de opções formais e estéticas, fazer convergir a expressão artística com a luta pela afirmação do projecto de emancipação social, económica, política e cultural iniciado com a Revolução de Abril que o PCP coerente e combativamente defende».
A mostra «Comunica@to» tem como tema genéricoRomper Amarras. Citando o regulamento da iniciativa , Isaura Lobo realçou que esta expressão dirige-se a todos os que, «tenham ou não consciência desse facto, vivem dia a dia enredados pelos múltiplos fios que a sociedade capitalista tece». Prosseguindo, lembra-se que mais do que mostrar e denunciar esses «fios», é trabalho da comunicação e da agitação de combate «transmitir o entusiasmo e a esperança que resultará de romper amarras, libertar o sonho, libertar a vida».
O tema proposto divide-se em diversas linhas: «Romper amarras na cultura e na vida»; «Romper amarras da exploração»; «Romper amarras da agressão e da guerra»; «Romper amarras da desigualdade e da injustiça»; «Romper amarras, mudar o mundo». Pintura, escultura, fotografia, maquete de cartaz, slogan em faixa ou mural, instalação, cartoon, caricatura ou fotomontagem e vídeo são algumas das expressões artísticas propostas.
A experiência soviética
Arte e luta política
Não é possível datar o nascimento da arte como forma de expressão política. Desde tempos que se perdem na História que a mensagem política é apresentada sob diversas formas e expressões artísticas. Na Revolução Francesa, para não ir mais atrás, os cartazes políticos enchiam as paredes, folhetos circulavam de mão em mão, caricaturas ironizavam com os adversários.
O século XX traz novas técnicas e isso faz-se sentir na arte de agitprop. Às artes «tradicionais», melhoradas pelos avanços técnicos, somam-se outras, como a fotografia e o cinema. A arte «política» chega cada vez mais longe e a sua importância cresce na mobilização e consciencialização das massas. A revolução russa, de Outubro de 1917, é disso exemplo.
O termo agitprop nasce, aliás, na Rússia soviética, a partir da contracção das palavras agitatsiia e propaganda, surgindo pela primeira vez no nome do Departamento de Agitação e Propaganda criado em 1920 pelo Comité Central do Partido Comunista (Bolchevique).
Após a Revolução de Outubro, e sobretudo com o início da guerra «civil» levada a cabo pelas forças contra-revolucionárias aliadas a tropas das potências capitalistas estrangeiras, a actividade de propaganda conheceu um enorme desenvolvimento.
No dia 26 de Outubro de 1917 (pelo calendário juliano, então utilizado na Rússia), o Comité Central do Partido Comunista (Bolchevique) anuncia a composição do governo. Anatoty Lunacharsky encabeçava o Comissariado do Povo para o Conhecimento. Escritor e crítico, autodenominava-se um «intelectual entre bolcheviques e um bolchevique entre intelectuais». Era um fervoroso apoiante da disseminação das artes entre as massas operárias e camponesas.
O comissariado dirigido por Lunacharsky promoveu, nos primeiros dias da Revolução, a construção de novos monumentos, a maior parte deles temporários, e apoiou e patrocinou a criação artística, da mais vanguardista à tradicional. Estava-se ainda antes da profusão da rádio e a Rússia tinha uma população maioritariamente iletrada. Os comboios e barcos de agitação jogam um papel considerável na informação e propaganda, nomeadamente nos dias da Guerra Civil. De cidade em cidade, estes veículos percorriam a Rússia soviética distribuindo panfletos, projectando filmes, colando cartazes, montando cenários e encenando peças teatrais.
Na alvorada da Revolução, muitos são os artistas que aderem à causa. Mayakovsy, Meyerhold e Blok estão entre os primeiros, que participam na produção dos cartazes Rosta, distribuídos e afixados por toda a república soviética, nomeadamente nos edifícios públicos. Utilizando uma linguagem simples e uma mensagem directa – aliada a uma forte componente artística – exerceram uma significativa influência na formação das massas acerca de temas como saúde pública, segurança no trabalho, campanhas de alfabetização, direitos das mulheres, entre outros. O apelo de Lunacharsky aos artistas e intelectuais para que participassem na «batalha pelas mentes e corações» era correspondido.
Não foi só no domínio da arte marcadamente política que a Revolução de Outubro rasgou novos horizontes. As alterações radicais que se verificavam no dia a dia do país reflectiam-se na produção artística. Após Outubro de 1917 vive-se um período de frenética experimentação, rompendo-se com conceitos de cor e forma até então em vigor e abrindo-se novas fronteiras criativas. Rodchenko e Malevich contam-se entre os mais ousados experimentalistas.
A guerra civil, a fome, a necessidade de desenvolvimento das forças produtivas do país e a invasão e a barbárie nazis – só para citar alguns exemplos – condicionariam a vida do estado soviético. Os reflexos fizeram-se sentir em todos os aspectos da vida, incluindo na arte e na cultura. O agitprop manteve-se e desenvolveu-se, tendo desempenhado um importante papel na consciencialização e mobilização das massas operárias e camponesas para as difíceis mas exaltantes tarefas da construção da nova sociedade.
Isaura Lobo crê mesmo que a mensagem política é «potenciada pelo tratamento criativo e artístico». A mostra pretende ainda mostrar a possibilidade de, «com a diversidade de opções formais e estéticas, fazer convergir a expressão artística com a luta pela afirmação do projecto de emancipação social, económica, política e cultural iniciado com a Revolução de Abril que o PCP coerente e combativamente defende».
A mostra «Comunica@to» tem como tema genéricoRomper Amarras. Citando o regulamento da iniciativa , Isaura Lobo realçou que esta expressão dirige-se a todos os que, «tenham ou não consciência desse facto, vivem dia a dia enredados pelos múltiplos fios que a sociedade capitalista tece». Prosseguindo, lembra-se que mais do que mostrar e denunciar esses «fios», é trabalho da comunicação e da agitação de combate «transmitir o entusiasmo e a esperança que resultará de romper amarras, libertar o sonho, libertar a vida».
O tema proposto divide-se em diversas linhas: «Romper amarras na cultura e na vida»; «Romper amarras da exploração»; «Romper amarras da agressão e da guerra»; «Romper amarras da desigualdade e da injustiça»; «Romper amarras, mudar o mundo». Pintura, escultura, fotografia, maquete de cartaz, slogan em faixa ou mural, instalação, cartoon, caricatura ou fotomontagem e vídeo são algumas das expressões artísticas propostas.
A experiência soviética
Arte e luta política
Não é possível datar o nascimento da arte como forma de expressão política. Desde tempos que se perdem na História que a mensagem política é apresentada sob diversas formas e expressões artísticas. Na Revolução Francesa, para não ir mais atrás, os cartazes políticos enchiam as paredes, folhetos circulavam de mão em mão, caricaturas ironizavam com os adversários.
O século XX traz novas técnicas e isso faz-se sentir na arte de agitprop. Às artes «tradicionais», melhoradas pelos avanços técnicos, somam-se outras, como a fotografia e o cinema. A arte «política» chega cada vez mais longe e a sua importância cresce na mobilização e consciencialização das massas. A revolução russa, de Outubro de 1917, é disso exemplo.
O termo agitprop nasce, aliás, na Rússia soviética, a partir da contracção das palavras agitatsiia e propaganda, surgindo pela primeira vez no nome do Departamento de Agitação e Propaganda criado em 1920 pelo Comité Central do Partido Comunista (Bolchevique).
Após a Revolução de Outubro, e sobretudo com o início da guerra «civil» levada a cabo pelas forças contra-revolucionárias aliadas a tropas das potências capitalistas estrangeiras, a actividade de propaganda conheceu um enorme desenvolvimento.
No dia 26 de Outubro de 1917 (pelo calendário juliano, então utilizado na Rússia), o Comité Central do Partido Comunista (Bolchevique) anuncia a composição do governo. Anatoty Lunacharsky encabeçava o Comissariado do Povo para o Conhecimento. Escritor e crítico, autodenominava-se um «intelectual entre bolcheviques e um bolchevique entre intelectuais». Era um fervoroso apoiante da disseminação das artes entre as massas operárias e camponesas.
O comissariado dirigido por Lunacharsky promoveu, nos primeiros dias da Revolução, a construção de novos monumentos, a maior parte deles temporários, e apoiou e patrocinou a criação artística, da mais vanguardista à tradicional. Estava-se ainda antes da profusão da rádio e a Rússia tinha uma população maioritariamente iletrada. Os comboios e barcos de agitação jogam um papel considerável na informação e propaganda, nomeadamente nos dias da Guerra Civil. De cidade em cidade, estes veículos percorriam a Rússia soviética distribuindo panfletos, projectando filmes, colando cartazes, montando cenários e encenando peças teatrais.
Na alvorada da Revolução, muitos são os artistas que aderem à causa. Mayakovsy, Meyerhold e Blok estão entre os primeiros, que participam na produção dos cartazes Rosta, distribuídos e afixados por toda a república soviética, nomeadamente nos edifícios públicos. Utilizando uma linguagem simples e uma mensagem directa – aliada a uma forte componente artística – exerceram uma significativa influência na formação das massas acerca de temas como saúde pública, segurança no trabalho, campanhas de alfabetização, direitos das mulheres, entre outros. O apelo de Lunacharsky aos artistas e intelectuais para que participassem na «batalha pelas mentes e corações» era correspondido.
Não foi só no domínio da arte marcadamente política que a Revolução de Outubro rasgou novos horizontes. As alterações radicais que se verificavam no dia a dia do país reflectiam-se na produção artística. Após Outubro de 1917 vive-se um período de frenética experimentação, rompendo-se com conceitos de cor e forma até então em vigor e abrindo-se novas fronteiras criativas. Rodchenko e Malevich contam-se entre os mais ousados experimentalistas.
A guerra civil, a fome, a necessidade de desenvolvimento das forças produtivas do país e a invasão e a barbárie nazis – só para citar alguns exemplos – condicionariam a vida do estado soviético. Os reflexos fizeram-se sentir em todos os aspectos da vida, incluindo na arte e na cultura. O agitprop manteve-se e desenvolveu-se, tendo desempenhado um importante papel na consciencialização e mobilização das massas operárias e camponesas para as difíceis mas exaltantes tarefas da construção da nova sociedade.